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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O pai da minha filha

Sou filha de pais separados. Isso não me gerou grandes traumas, mas me fez pensar em muitas coisas para minha vida. Meus pais se separaram quando eu tinha dois anos e, desde então, vejo meu pai muito ocasionalmente. Ele refez sua vida, se casou e teve três filhos. E eu fiz a minha vida ao lado da minha mãe, minha eterna amiga e companheira. Posso dizer, com toda a certeza, que ela sempre foi maravilhosa e conseguiu desempenhar seu papel de mãe lindamente, sem que eu carregasse qualquer mágoa contra meu pai, apesar de ele estar completamente ausente na minha vida.

Só tem uma coisa que eu nunca entendi.
Quando eu era pequena e via, principalmente, as filhas mulheres com seus pais, eu não entendia como era aquela relação. Começava em casa, minha mãe com o meu avô (pai dela). Eu, simplesmente, não entendia como minha mãe podia se dar tão bem com meu avô. Sempre quis saber qual era esse sentimento que ocorria entre pai e filha, como eram as conversas, os olhares, os abraços. Um dia, perguntei a uma amiga “se você tivesse que escolher entre seu pai e sua mãe, quem você escolheria?” A resposta me parecia lógica: a minha mãe. Mas não, ela me disse que não conseguiria escolher.

Aquilo mexeu comigo. Na época, eu tinha uns oito anos, e, até então, eu não pensava muito na função do pai. Pai era aquele cara que estava ao lado da mãe e pronto ou, às vezes, nem estava, como era o meu caso. O importante mesmo era a MÃE. O pai era alguém que estava ali, meio que um adereço.

Quando meu avô morreu, eu tinha 15 anos e o modo como aquilo mexeu com a minha mãe me mostrou que pai não é só um cara que está ali. Pai é a versão masculina da mãe, ele é tão importante quanto ela. Pude perceber isso claramente.

Sabe essa intimidade que você tem com sua mãe? Essa coisa que só você e ela sabem? O gostoso de estar junto, conversar, dividir a mesma cama, pedir a opinião, tomar um café com bolo, dar risada, contar o que aconteceu durante o dia. Então, realmente me surpreendi quando descobri que as meninas também podem ter isso com seus pais (me restrinjo a falar somente sobre as meninas porque essa é a experiência que eu tive).

Quando me vi grávida de uma menina, pensei e penso em muita coisa sobre isso. Sobre como queria que a minha filha tivesse essa intimidade e cumplicidade com o seu pai. Queria muito que ela tivesse um pai presente de verdade. Um pai que fosse mãe. Mãe no sentido mais materno que existe: no cuidado, na atenção, na compreensão, na entrega. E deixei isso muito claro para o meu marido que, passou a ser também o pai da minha filha.

Hoje, a Alice tem um ano. E, no balanço desse primeiro ano, posso falar com o coração cheio de alegria que essa relação paterna está sendo lindamente construída. Gosto de ficar olhando os dois brincando, rindo, se olhando. Gosto quando meu marido pega a pequeninha no colo e a faz dormir, quando ele me conta animado alguma novidade que ela fez, quando ela fica feliz de escutar a porta abrindo porque ele chegou em casa. Gosto de ver as brincadeiras que ele faz com ela, o modo carinhoso como ele cuida dela, como ele a enche de beijinhos e ela até fica nervosa. Gosto de ouvir as gargalhadas das cócegas, o barulho dos passinhos, o modo como ela pede para ir no colo dele.

Porém, há um contraponto nessa história. Para que tudo esteja acontecendo, sempre tive que me policiar muito e dar o espaço que ele merece como pai. Isso porque nós, mães e mulheres, temos a mania de achar que somos onipotentes e que tudo deve passar por nossa mão, mas não. Em uma sociedade machista como a nossa, na qual homem não chora e não pode ser delicado, nem trocar fralda, nem dar banho em bebê, a mãe precisa ajudar o pai a se empoderar como pai. Precisa deixá-lo confortável e seguro para assumir-se como pai. Eu acredito muito nisso. A mulher, às vezes, reclama que precisa fazer tudo sozinha, mas quando o homem assume a função, metemos um monte de defeitos. Eles que, culturalmente, já não são muito incentivados a participar, encontram uma razão para continuar não fazendo nada.

Não estou defendendo os homens e culpando as mulheres. Estou, humildemente, propondo uma mudança de atitude também do nosso lado. Sei muito bem como é difícil você admitir que ele pode também fazer o que você faz, mas do jeito dele e não do seu.

Quando estamos prontas para perceber que eles também sabem cuidar dos pequenos, aprendemos com isso.

O pai da minha filha me ensinou como é gostoso tomar banho de chuveiro com a Alice.

Acho lindo quando ela termina de mamar e pede para ir no colo dele para dormir.

Tem vezes que ela só come se ele der a comida (e acho muito engraçado os dois dividindo um prato de polenta com feijão, por exemplo).

Foi ele quem descobriu que ela adora sentar no volante e também foi ele quem inventou a brincadeira de se esconder atrás da cortina e chamar a mamãe (a Alice ADORA isso).

Ele a acalma quando ela sai brava do banho porque queria ficar mais na água.

Ele assiste TV com ela no colo e explica o que está passando.

Me emociono quando acordo, olho para o lado e encontro os dois abraçadinhos dormindo (ela com aqueles bracinhos curtinhos, tentando abraçar o seu paizinho).

...

São tantas coisas, tantos detalhes.

Assim, vai se construindo a nossa “familinha”, como gosto de dizer!!!!

Enquanto isso, minha filha vai aprendendo que tem um pai maravilhoso, pai e mãe, que também estão aprendendo seus novos papeis: pai e mãe da Alice!!!!

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