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domingo, 5 de janeiro de 2014

Sejamos racionais. Será?

Faz algumas semanas, passamos por um fim de semana um pouco diferente, ao invés de passearmos ou ficarmos em casa com nossa pequeninha, tivemos que ir a um desses centros 24 horas por causa de uma febrinha chata que começou sexta e só foi embora domingo à noite. No fim, não era nada demais, um comecinho de gripe, uma virose ou os dentinhos nascendo... ou, quem sabe, tudo junto.

Bem, o fato é que ir à emergência fez com que eu me deparasse com duas cenas que me deixaram bastante tristes.
A primeira aconteceu no sábado. Esperando para sermos atendidos, começamos a conversar com uma mãe e uma avó que estavam juntas também esperando. Meu marido cri cri, que não tem nada de curitibano, já foi puxando conversa. A bebezinha tinha cinco meses e, lá estava ela, com a chupetinha na boca. Ele, então, perguntou: “E ela? Gosta de chupeta?” “Gosta nada – nos disse a avó – só está aceitando agora porque tá meio doentinha” E continuou: “Ela nunca gostou de chupeta, para ela usar, é uma briga”.

Certo, deixa ver se eu entendi: a criança de cinco meses não gosta de chupeta, mas, mesmo assim, ela é obrigada a usar???? Porque???? Tive vontade de perguntar isso, mas fiquei meio sem graça e não quis parecer intrometida.

Tivemos que voltar lá na emergência no dia seguinte para ver o resultado de um exame de urina da Alice. Sentados na nossa frente, um casal e uma menina de uns três anos que, como toda criança dessa idade, não parava quieta. A menina queria correr de um lado para o outro até que, a mãe a segurou firmemente pelo braço e lhe disse que ela parasse de se comportar daquela maneira e que ficasse quieta sentada. Bem, a menina sentou mas, claro, não conseguia parar quieta. Ficava se mexendo sem parar na cadeira. E digo não conseguia porque, realmente, uma criança de três anos NÃO CONSEGUE parar quieta. É como mandar um peixinho não nadar ou um cachorro não latir, uma florzinha não desabrochar, um passarinho não voar.

Mas, a mãe não queria saber. Ela parecia estar decidida a “ensinar” a sua filha a sentar direito – palavras dela. Então, a mãe dizia o tempo todo: “senta direito, senta direito, senta direito”. Meu Deus, pensei comigo, que mulher chata. Uma menina de três anos que, com certeza, estava doente porque estava ali em um domingo de manhã e a mãe com uma cara muito feia, visivelmente descontente e estressada, queria deixar a menina estática na cadeira sei lá por qual motivo...

Enfim, essas duas cenas me renderam algumas reflexões. Primeiro, a chupeta. Já contei aqui como algumas pessoas insistiam comigo para que eu desse chupeta para minha pequena. Por vários motivos: “chupeta acalma”, “criança gosta de chupeta”, “chupeta ajuda a dormir”, “é tão bonitinho”, cheguei a ouvir; “coitadinha, você não vai dar chupeta pra ela?”. Oi? Como assim, coitadinha????? Gente, chupeta faz mal, chupeta não é bom e deveria ser vista como a última das últimas alternativas para acalmar um bebê!!!!!! O bebê sente necessidade de sugar? Realmente sente, então a mãe natureza, muito sábia, deu às mamães uma coisa chamada “seio”. Ele serve para isso. Não é só para amamentar, é para ajudar o bebê a se sentir seguro e bem cuidado, confortável e é uma inegável fonte de prazer para esse serzinho que acabou de chegar ao mundo.

Vamos nos basear por outros mamíferos. Porque é isso que somos: mamíferos. Algum deles usa chupeta? Pois é, mas nós somos seres racionais, não podemos nos comparar a macacos, cachorros, gatos, ursos, ou qualquer outro animal, porque PENSAMOS!!!! Ah tá, então vamos pensar juntos...

Nós, como seres altamente racionais e evoluídos, seguimos outros padrões de comportamento, que, muitas vezes, divergem completamente de nossa própria natureza e dos nossos próprios instintos. Algumas vezes, isso pode ser bom, mas, também pode ser ruim. Pensemos em alguns hábitos relacionados ao modo como “nos dizem” para criar e, digamos, adestrar nossos bebês. Primeiro, nos dizem que eles precisam dormir em quarto separado (dormir na cama com os pais??? Jamais!!!!) Dormir mamando no peito?? (é uma afronta). Então, o que, nós, seres racionais, fazemos quando percebemos que o bebê, contrariamente a todo pensamento racional, adora dormir grudadinho na mãe? Claro, percebemos de antemão que desgrudar o bebê da mãe é uma tarefa muito difícil, mas há uma solução:

Já encontrei em vários sites sobre bebês a seguinte recomendação: para a criança dormir sozinha e não sofrer com a ausência da mãe quando acorda, colocamos do seu ladinho um paninho com o cheirinho da mãe. Assim, a criança vê aquele paninho, sente o cheirinho materno, se acalma e dorme de novo, sem incomodar a paz do lar. Sério???? Dar um paninho com cheirinho para substituir a falta natural e angustiante que um bebê sente por sua mãe?? Muito racional, nada emocional.

Em relação a dormir no peito. Não pode, né? Mas o bebê adora porque acalma, relaxa, dá prazer, então resolvido: Chupetinha na boquinha do neném. Assim, ele cala a boquinha e todos podem dormir felizes da vida. Eu sei que o choro do bebê é angustiante e, muitas vezes, o que os pais querem é uma alternativa para acalma-lo e, então, desesperados, depois de noites sem dormir, choro na orelha e desespero, oferecem a chupeta. Mas, existem outras maneiras, outras técnicas de relaxamento, que, em um primeiro momento, podem parecer complicadas, mas valem a pena no lugar da chupeta. Enfim, é melhor tentar outras coisas e deixar a chupeta como última alternativa.

No caso da bebê que conheci sábado, a própria bebê rejeitava a chupeta. Então, porque insistir? Porque enfiar a chupeta goela abaixo? Porque associamos a imagem do bebê à chupeta e à mamadeira? Desde quando esses utensílios são naturais? Ou será que eles funcionam como ferramentas para substituir o carinho que os bebês precisam para desenvolver-se? Será que eles representam um modo de deixar o bebê independente. (Está aí uma expressão que detesto. Como um bebê pode ser independente. Ele pode ser um monte de coisa: fofinho, bonitinho, cherosinho, bravo, contente, exigente, apressado, esfomeado, esperto... enfim podemos imaginar várias características para esse serzinho, mas INDEPENDENTE, sem chance. Ele não faz nada sozinho. Nem dormir sozinho, ele consegue. Um bebê PRECISA de sua mãe ou de outra pessoa, se for o caso, para TUDO. E é assim, não há o que fazer a não ser atender as suas necessidades!).

Sobre a menina que “não sabe sentar direito”. Concordo que os pais devem ensinar seus filhos a se comportar, a viver em sociedade, a respeitar certos códigos de conduta, a saber como agir em determinados locais. Mas, concordo também que tudo isso precisa ser ensinado. Primeira regra para um bom professor: PACIÊNCIA. Segunda regra: EXEMPLO. Não adianta fazer cara feia, ameaçar, ser grosseiro. Queridos, atitudes como essas não ensinam nada a ninguém, aliás, ensinam a amedrontar, a ser grosseiro e rude. Porque a verdade é que a melhor maneira de ensinar algo a nossos filhos é através do exemplo: se você for rude e grosseiro, seu filho não será uma das pessoas mais agradáveis e compreensivas; se você se descontrolar a cada adversidade, seu filho não será um modelo de equilíbrio.

Claro, concordo que todos temos nossos momentos de “ai que saco” e que, às vezes, a coisa sai dos eixos. Também concordo sobre o fato de que uma unidade de emergência infantil não é o melhor lugar para passar a manhã de um domingo. Mas para que fazer com que a coisa fique pior ainda? Quer deixar a menina quietinha na cadeira? Há outras maneiras.

Primeiro, se a menina tivesse um brinquedinho com ela, já seria mais fácil de distrai-la. Tudo bem, esqueceu do brinquedo? Acontece, então, vamos pensar em como acalmar o furacãozinho... tem coisa mais gostosa do que conversar com uma criança pequena? Dá para inventar brincadeirinhas e historinhas, assim, dá para transformar aqueles momentos chatos de espera em momentos de convívio, de estar junto gostoso. Tenho ótimas lembranças de quando eu era pequena e ficava doente e de como minha mãe cuidava de mim e me mimava. Lembro até hoje de como eu me sentia melhor com o jeito carinhoso como eu era tratada.

Ora, se uma criança não para quieta, ela está pedindo atenção, precisa de uma distração, então, mãe e pai, tem que tirar a bundinha da cadeira e inventar alguma coisa pra fazer. Se não a própria criança inventa, nem que seja correr pela sala. Criança é assim. Agora, querer que uma criança de 3 anos se comporte como um adulto. Sério??? Na verdade, isso não me parece nem um pouco racional.

Enfim, essas duas situações me fizeram pensar em como temos a tendência de moldar nossos filhos considerando padrões absurdos, que vão contra nossa própria natureza. Seja enfiando uma chupeta na boca da criança, mesmo contra a vontade, ou querendo impor um comportamento que não é compatível com a idade da criança. Por acaso, encontrei um ótimo texto no Blog Cientista que Virou Mãe. O texto é uma colcha de retalhos sobre diferentes visões sobre a criação com apego. Vale a pena conferir, afinal, esse discurso não é somente meu, mas é de tod@s que resolvem criar seus filhos de um modo diferente: escutando-os, sentindo suas reais necessidades e angústias, porque criança também tem angústia, também fica triste, também sente coisas ruins. Você já parou para se colocar no lugar do seu filho? Já parou para pensar como ele se sente com determinadas situações? Isso se chama EMPATIA, é a capacidade de colocar-se no lugar do outro a fim de entende-lo melhor. É um ótimo exercício e os filhos podem ser ótimos professores nessa tarefa!!!! 

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