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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Porque "acostumar mal" um filho?

Mesmo antes de ser mãe, eu sempre tive algumas teorias em relação à criação de filhos. Veja que isso é muito comum: pessoas que nunca tiveram filhos adoram falar/pensar no modo ideal de criar filhos. Hoje, isso me irrita um pouco. Me irrita, principalmente, o fato de eu ter sido uma dessas pessoas. Como alguém pode falar sobre criação de filhos, sobre o que fazer, sobre o que é melhor se nunca passou pela experiência da maternidade? Se nunca teve um filho nos braços? Não dá para saber. Esse é um tipo de coisa que a gente só sabe quando passa. Mas, enfim, peço desculpas a todas as mães que critiquei, mesmo internamente, por suas escolhas.
Bem, o fato é que, como mãe de primeira viagem, sempre pensei que uma das pessoas mais apropriadas para me ajudar na criação da minha filha era a pediatra. Mas, logo vi que essa máxima não era 100% confiável.
Tentei seguir o que ela falava para que minha filha tivesse tudo que precisava. Uma das primeiras recomendações:
“Não deixe a bebê dormir mamando. A hora da mamada é uma refeição. Você dorme enquanto come?”
Achei meio estranho aquilo, mas, enfim, ela estudou para me dizer tal coisa. Deve saber o que faz. O problema é que a Alice sempre dormiu mamando, aliás, isso fazia parte da sua rotina: trocar a fralda, mamar, dormir e arrotar (já pregada de sono). Tentei seguir a recomendação, tirar o peito antes de ela dormir, mas não consegui. Não tinha estômago para aquilo, para o choro, coisa e tal. Em outras palavras: não segui essa recomendação.
A partir daí fui filtrando, tentava fazer o que ela me dizia, o que funcionava eu fazia o que não funcionava, eu seguia do meu jeito. Algumas coisas funcionaram: deixar ela dormir meio sentadinha para aliviar o refluxo, cozinhar sem sal nem açúcar, não dar chupeta. Mas, nem tudo funcionava, por exemplo: adormecer sozinha no berço (JAMAIS funcionou), não dormir mamando, não colocar ela na nossa cama para nada, não dormir no mesmo quarto, não cantar para ela dormir, não “acostuma-la” no colo. Nada disso funcionou.
Enfim, eu tinha a impressão de que a pediatra tentava nos impor uma rotina militar. Parece que tudo que tinha a ver com carinho não podia. O fato é que, embora não tenha seguido várias dessas recomendações, não troquei de pediatra. Não sei porque. Acho que, no fundo, eu pensava “ah, pediatra é assim mesmo”.
Mas, o limite, para mim, foi na consulta do oitavo mês. Eu estava muito preocupada pela seguinte situação: a Alice sempre dormiu bem. Com dois meses, ela já dormia da meia noite às 6 ou 7 da manhã. Tinha vezes que eu tinha que acorda-la para ela mamar. Por isso, nunca senti a necessidade de coloca-la para dormir na cama com a gente (e pensava que nunca faria isso para “não acostumar mal”).
Acontece que, a partir dos seis meses, a coisa mudou. Ela começou a acordar várias vezes à noite. Chegava a acordar de hora em hora, mamava e dormia. Eu comecei a ficar muito preocupada, queria saber porque, de repente, a coisa mudou tanto. Falei com algumas colegas do trabalho que já eram mães, elas me disseram: “põe ela no meio, que ela dorme bem”, minha mãe, a mesma coisa “põe ela no meio”. Mas, sei lá porque, eu botei na cabeça que filho não podia dormir no meio. Senão acostumava mal.
O que fiz? Perguntei para a pediatra. Para piorar, naquele mês, a Alice tinha engordado pouco e tinha crescido só meio centímetro. Daí veio o sermão. Ela disse mais ou menos o seguinte:
“Você não pode dar o peito à noite. Ela não está crescendo porque acorda muitas vezes. Ela precisa de seis horas de sono ininterruptas para o hormônio do crescimento agir. Se você continuar dando o peito à noite, ela não vai se desenvolver direito. Se ela sempre dormiu bem e agora não está dormindo, ela está regredindo.”
Gente, aquilo acabou comigo. O meu leite estava fazendo a minha filha regredir. Eu saí do consultório me sentindo a pior de todas as mães. O que deveríamos fazer? Deixa-la chorando, segunda a doutora. O prazo era de uma semana e ela se acostumaria. Ai Deus. Eu nunca tinha feito aquilo, nunca deixei minha filha chorar nem por um minuto. Ela chorava e eu corria para pega-la.
Chegou a noite. Eu e meu marido passamos a madrugada inteira revezando com ela no colo. Ela chorou muito, como nunca tinha chorado.
Ela queria mamar. Mas, como eu poderia amamenta-la se ela estava deixando de se desenvolver bem por causa disso? Seria muito irresponsabilidade da minha parte.
Não tivemos coragem de deixa-la chorando no berço. Ficamos com ela no colo. Tentando consola-la, falando, cantando,.... até que ela dormiu de cansada.
No outro dia, eu estava em cacos. Além de ter passado a noite toda acordada, estava emocionalmente abalada. Me sentia a pior das pessoas, a pior das mães. Percebi que algo estava muito errado naquilo. Não era natural. O que eu fiz? Pesquisei muito na internet sobre o assunto. Mas eu não queria conselhos pediátricos, agora, eu queria escutar outras mães. Fui ver nos fóruns, nos blogs. Perguntei para todas as mães que eu conhecia e que cruzaram comigo naquele dia. Precisava saber o que elas faziam e sentiam.
Umas 4 da tarde, meu marido me liga: “marquei outro médico aqui pertinho às 18:15”. Eu saía às 18h. Isso significava que ele também tinha ficado mal por aquilo, ele também estava sofrendo com aquela situação. E, por pura sorte ou destino, conseguiu um médico praticamente do lado de casa, para aquele mesmo dia.
Chegamos na nova médica. Era uma senhora, com fotos dos netos na mesa do seu consultório. Ela era uma pessoa muito simples e falava sem aquela afetação de doutor que alguns médicos têm. O que ela me disse: era tudo normal. A Alice estava passando pela fase dos dentinhos, por isso, era normal não engordar tanto e acordar mais vezes durante a noite. Por que ela queria mamar? Era fome? Não. Era porque assim ela se sentia melhor, ajudava a passar a dor. Podia amamentar, então? Claro, não tinha problemas. Olha o que ela me disse:
“Se você der a mamadeira, pode ser que ela pare de acordar à noite, mas a mamadeira é mais fria. Não tem aquele contato com a mãe, com a pele. Eu acho pior. Os meus netos mamaram até os dois anos no peito e acordavam para mamar à noite. Não tem problema”.
Que alívio!!!! O meu problema não era amamentar de madrugada, era pensar que isso prejudicaria minha filha.
Então, nessa hora, meu marido soltou uma pergunta: “E dormir na nossa cama, pode?” Pensei comigo: “claro que não, né!!!!”. Porém, foi enorme minha surpresa, quando a doutora respondeu: “Olha, isso depende de vocês. A criança acorda à noite, está sozinha no berço, está com frio. O que ela faz? Chora. Ela quer o carinho e o quentinho dos pais. Se colocar no meio, ela, provavelmente, vai dormir melhor”. Fiquei pasme. Eu pensei que era consenso essa coisa de não pôr na cama dos pais.
Gente, aquela noite foi ótima. A Alice dormiu no nosso meio. Dormiu super bem. Acordou só uma ou duas vezes para mamar e eu descobri uma coisa: é muito bom dormir com o filho. Como eu não pude perceber antes? Como eu pude não me escutar? Como eu pude deixar que discursos alheios pudessem me dizer o que é certo ou o que é errado em relação à MINHA FILHA!!!!!! Eu sou mãe dela, eu a conheço melhor do que qualquer doutor.
Nunca mais voltei na doutora de disciplina militar. Passei a frequentar a doutora que tinha netos e que humanizou a consulta de rotina.
Agora, a Alice está com quase um aninho. Ela dorme e eu a coloco no bercinho do lado da nossa cama (ela sempre dormiu no nosso quarto). Daí vou fazer minhas coisas antes de deitar. Depois de três a quatro horas de sono, geralmente, ela acorda. Essa hora já estou deitada ou até dormindo. Eu a pego no colo, coloco na nossa cama, amamento, deitada mesmo. Ela adormece e eu a coloco dormindo do ladinho. Nossa cama é enorme e eu e meu marido somos pequenos. Então, tudo mundo fica bem e dorme bem. É o nosso ninho!
Ela ainda acorda outras vezes. Acorda assim resmungando, às vezes eu a abraço e, pronto, ela já dorme de novo. Às vezes, eu amamento e ela já adormece. É até engraçado, ela faz uma carinha de lindinha!!
Pronto, e assim resolvemos o problema: todos dormimos muito melhor. Nós três!!!!!! Se eu soubesse que era assim, não teria me imposto tantas regras. Só teria deixado rolar.

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